quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Capítulo 01



Capítulo 01

               Leandro volta para casa com a cabeça latejando de idéias e possibilidades.
                Preciso sair dessa espiral eterna de trabalho chato, responsabilidades e tédio que minha vida me proporciona.
                Acende as luzes da sala, liga a TV, olha para o notebook fechado sobre a mesa de centro, a estante cheia de livros. Deita no sofá e lembra o pensamento que há dias o perseguia.
               E se a História tivesse mais detalhes, mais caminhos e o cenário fosse outro?
                Essa sensação de que há algo mais.
                Deve ser parte da natureza humana essa busca do ‘Santo Graal’ ou sei lá... Um refúgio para que a realidade de ser poeira cósmica não nos afunde mais na chatice do ciclo Come-Dorme-Trabalha.”
                Crises existenciais de lado. Vamos voltar ao devaneio conspiracional. Por que o tecido da realidade tem que ser tão sólido?Quase mais forte que Adamantium?Por que a verdade tem que ser tão impossível?
              E se?”
               Pode ser uma pergunta desafiadora. Por que negá-la? Por isso negá-la?
                Respira fundo, cria coragem, abre o notebook torcendo para que a idéia não se perca e procura os arquivos que motivaram a conversa no bar: Uma tese de doutorado sobre o assunto onde o documentário se baseia e o próprio vídeo do documentário. Os encontra. Pronto!Estava embasado historicamente. Começa abrindo um arquivo novo no Word e deixando rolar o vídeo, passa os olhos pelo arquivo pdf aberto, tentando começar a escrever. Mas em sua idealização adolescente, deveria ser “colocar uma folha em branco na máquina.” E como sempre, pensa em como começar a escrever. Qual a melhor frase ou cena ou palavra...
               Por que não encontro um manuscrito de um ex-presidente revelando tudo sobre os segredos do governo ou documentos secretos de uma experiência realizada pelas forças armadas. Ou simplesmente, sou um gênio e crio um mundo fantástico onde há muito tempo atrás em um lugar muito, muito distante aconteceu uma estória.”
              Era jornalista, mas não exercia a profissão. Pensava em ser escritor. Mas a cobrança de fazer sua obra-prima já no primeiro trabalho sempre adiava seus planos e criava um círculo vicioso de subsistência profissional onde sobrevivia corrigindo Trabalhos de Conclusão de Curso ou escrevendo críticas de cinema para sites voltados ao entretenimento.
               Quer saber? Dane-se! Dane-se a fórmula, a narração, o narrador, a narrativa, a separação entre o que é minha escrita ou a fala do narrador ou do personagem ou do alter-ego do psicopata, adestrado estereotipado que vou criar. Preciso apenas aprender a contar a estória. Ou deixa - lá contar-se por si própria. Quero romper com a necessidade de me adequar ao intelecto do mercado. Que ninguém leia ou compre o livro. Que ninguém goste ou odeie. A indiferença pode significar mais que a unanimidade. Não penso que o que acontece em minha mente possa ser de algum proveito para os outros. Então para que me preocupar? Vou exteriorizar o que há em mim. Dane-se”
             Uma hora depois... Apenas olhando para a tela. Desiste:
             “Melhor pensar em uma estrutura narrativa...”
              Releu as regras de narratologia. E pensou se teria sido fácil para Dan Brown ter escrito o mesmo livro cinco vezes. Bom, por que sempre trava nessa hora?A escolha é um ato que deveria ser mais trivial. Tantas palavras para começar e ele não sabe qual escolher. Será que com a estrutura narrativa definida ficaria menos nebuloso o caminho?Após anotar em uma agenda o que era para ser seguido enquanto fio narrativo. Leandro pensava se era mais interessante seguir três atos ou deixar a trama longa e contar vários eixos não lineares de personagens que ao decorrer vão aparecendo. Descrever de forma detalhista e neurótica o cenário físico e psicológico ou apenas ser testemunha dos eventos.
              “João leu o livro. Gostou. Devolveu-o a estante e foi embora da biblioteca.”
              Isso resume bem um modo narrativo em três atos. Tem até quatro.”
               Rindo de si mesmo, resolve que a estrutura narrativa seria épica. Teria um cenário histórico, geográfico e temporal definido e se valeria de eventos reais acompanhados de fictícios. E os personagens?Outro tópico interessante. A estória se sustenta sem personagem ou personagens?Existe alguma coisa assim na literatura?O evento pode ser maior que os personagens?Um atentado terrorista ou uma guerra ou o Holocausto pode ser maior que apenas um homem ou mulher que passou pelo evento?Penso como narrador que a testemunha do evento deixa de ser influente na história quando o choque causado pelo evento provoca na testemunha um horror, êxtase, torpor maior que a emoção de quem está participando do evento. Nesse momento, a empatia ou o sentimento de alivio por ter se livrado da tragédia-comédia passa a ser o que define a importância da personagem.
             “Malditas aulas de filosofia.”
             Enfim começa a escrever (será?).
             “Era uma vez um cara que queria ser escritor, mas não conseguia escrever uma linha. Decidido a começar, ele encontra uma foto que sugere um monte de possibilidades. Um tijolo com a suástica. De onde seria? Para que foi usado? Quem o fez? Era real? Quais as intenções da fabricação e da utilização? Acho que agora tenho um ponto de partida.”         
              ’O Tijolo Nazista’.
              “Título provisório.”
               Na agenda escreve:
             - Referências são realmente necessárias? (Não sei, mas já pensei em várias);”
            “ - Porque tem que estabelecer tudo na estória?”
             “- É necessário em quatro minutos de filme/livro, você já entender toda a estória?”
              “- O personagem lembra que não tem manuscritos (Operação Cavalo de Tróia, O Nome da Rosa), nem criou um mundo mágico medieval ou em outra dimensão (Harry Potter, George Martin, Tolkien); e baseado em Dan Brown na seguinte descrição de um blog: ‘Como escrever como Dan Brown e vender milhões’; Cenário real, fatos históricos e ficção.”
            - “Narratologia.”
            Olho no papel, olho na tela. Escreve mais tópicos:
           - “Premissa”;
           - ”Esquema”;
           - ”Sinopse.”
          Levanta para fazer um café. A noite vai ser longa.

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