sábado, 23 de março de 2013

Mais trechos do livro com algumas partes já revisadas.



Prólogo

                  Sentados à mesa de um bar, discutiam realidades alternativas, conspirações, futebol e mulheres. A fumaça de cigarros nunca era uma variável, só a temperatura das bebidas. Também se verificava na discussão, que garçonetes gostosas só existem em um universo paralelo adolescente nerd ou em séries de TV. Gosto dessas conversas regadas a bebida por sempre a verdade aparecer nas opiniões. Aonde o tema conspiração chegaria?Não tem mais apelo falar do Homem não ter ido à lua. Ou se há chupas-cabras, Nessies, Sasquatchs, aliens, etc. O nível alcoólico tinha passado já do aceitável e como sempre alguém solta:
                  --E se a Alemanha ganhasse a guerra?
                  Com aquela cara de medo do sobrenatural - De imediato alguém responde.
                  -- Assuntinho batido, hein?Já tem um filme sobre isso. Dos anos noventa acho.
                   --Sério, vi um documentário sobre a influência Nazista na América do Sul. Impressionante... -- Deixa um ponto de interrogação um bom tempo. E se?Mas hipótese assim tem muitas opções...























Capítulo 01

               Leandro volta para casa com a cabeça latejando de idéias e possibilidades.
                ”Preciso sair dessa espiral eterna de trabalho chato, responsabilidades e tédio que minha vida me proporciona.”
                Acende as luzes da sala, liga a TV, olha para o notebook fechado sobre a mesa de centro, a estante cheia de livros. Deita no sofá e lembra o pensamento que há dias o perseguia.
               “E se a História tivesse mais detalhes, mais caminhos e o cenário fosse outro?”
                Essa sensação de que há algo mais.
                ”Deve ser parte da natureza humana essa busca do ‘Santo Graal’ ou sei lá... Um refúgio para que a realidade de ser poeira cósmica não nos afunde mais na chatice do ciclo Come-Dorme-Trabalha.”
                Crises existenciais de lado. Vamos voltar ao devaneio conspiracional. Por que o tecido da realidade tem que ser tão sólido?Quase mais forte que Adamantium?Por que a verdade tem que ser tão impossível?
              ”E se?”
               Pode ser uma pergunta desafiadora. Por que negá-la? Por isso negá-la?
                Respira fundo, cria coragem, abre o notebook torcendo para que a idéia não se perca e procura os arquivos que motivaram a conversa no bar: Uma tese de doutorado sobre o assunto onde o documentário se baseia e o próprio vídeo do documentário. Os encontra. Pronto!Estava embasado historicamente. Começa abrindo um arquivo novo no Word e deixando rolar o vídeo, passa os olhos pelo arquivo pdf aberto, tentando começar a escrever. Mas em sua idealização adolescente, deveria ser “colocar uma folha em branco na máquina.” E como sempre, pensa em como começar a escrever. Qual a melhor frase ou cena ou palavra...
               “Por que não encontro um manuscrito de um ex-presidente revelando tudo sobre os segredos do governo ou documentos secretos de uma experiência realizada pelas forças armadas. Ou simplesmente, sou um gênio e crio um mundo fantástico onde há muito tempo atrás em um lugar muito, muito distante aconteceu uma história.”
              Era jornalista, mas não exercia a profissão. Pensava em ser escritor. Mas a cobrança de fazer sua obra-prima já no primeiro trabalho sempre adiava seus planos e criava um círculo vicioso de subsistência profissional onde sobrevivia corrigindo Trabalhos de Conclusão de Curso ou escrevendo críticas de cinema para sites voltados ao entretenimento.
               “Quer saber? Dane-se! Dane-se a fórmula, a narração, o narrador, a narrativa, a separação entre o que é minha escrita ou a fala do narrador ou do personagem ou do alter-ego do psicopata, adestrado estereotipado que vou criar. Preciso apenas aprender a contar a história. Ou deixa - lá contar-se por si própria. Quero romper com a necessidade de me adequar ao intelecto do mercado. Que ninguém leia ou compre o livro. Que ninguém goste ou odeie. A indiferença pode significar mais que a unanimidade. Não penso que o que acontece em minha mente possa ser de algum proveito para os outros. Então para que me preocupar? Vou exteriorizar o que há em mim. Dane-se”
             Uma hora depois... Apenas olhando para a tela. Desiste:
             “Melhor pensar em uma estrutura narrativa...”
              Releu as regras de narratologia. E pensou se teria sido fácil para Dan Brown ter escrito o mesmo livro cinco vezes. Bom, por que sempre trava nessa hora?A escolha é um ato que deveria ser mais trivial. Tantas palavras para começar e ele não sabe qual escolher. Será que com a estrutura narrativa definida ficaria menos nebuloso o caminho?Após anotar em uma agenda o que era para ser seguido enquanto fio narrativo. Leandro pensava se era mais interessante seguir três atos ou deixar a trama longa e contar vários eixos não lineares de personagens que ao decorrer vão aparecendo. Descrever de forma detalhista e neurótica o cenário físico e psicológico ou apenas ser testemunha dos eventos.
              “João leu o livro. Gostou. Devolveu-o a estante e foi embora da biblioteca.”
              “Isso resume bem um modo narrativo em três atos. Tem até quatro.”
               Rindo de si mesmo, resolve que a estrutura narrativa seria épica. Teria um cenário histórico, geográfico e temporal definido e se valeria de eventos reais acompanhados de fictícios. E os personagens?Outro tópico interessante. A estória se sustenta sem personagem ou personagens?Existe alguma coisa assim na literatura?O evento pode ser maior que os personagens?Um atentado terrorista ou uma guerra ou o Holocausto pode ser maior que apenas um homem ou mulher que passou pelo evento?Penso como narrador que a testemunha do evento deixa de ser influente na história quando o choque causado pelo evento provoca na testemunha um horror, êxtase, torpor maior que a emoção de quem está participando do evento. Nesse momento, a empatia ou o sentimento de alivio por ter se livrado da tragédia-comédia passa a ser o que define a importância da personagem.
             “Malditas aulas de filosofia.”
             Enfim começa a escrever (será?).
             “Era uma vez um cara que queria ser escritor, mas não conseguia escrever uma linha. Decidido a começar, ele encontra uma foto que sugere um monte de possibilidades. Um tijolo com a suástica. De onde seria? Para que foi usado? Quem o fez? Era real? Quais as intenções da fabricação e da utilização? Acho que agora tenho um ponto de partida.”         
              ’O Tijolo Nazista’.
              “Título provisório.”
               Na agenda escreve:
             “- Referências são realmente necessárias? (Não sei, mas já pensei em várias);”
             “- Porque tem que estabelecer tudo na estória?”
             “- É necessário em quatro minutos de filme/livro, você já entender toda a estória?”
              “- O personagem lembra que não tem manuscritos (Operação Cavalo de Tróia, O Nome da Rosa), nem criou um mundo mágico medieval ou em outra dimensão (Harry Potter, George Martin, Tolkien); e baseado em Dan Brown na seguinte descrição de um blog: ‘Como escrever como Dan Brown e vender milhões’; Cenário real, fatos históricos e ficção.”
           - “Narratologia.”
            Olho no papel, olho na tela. Escreve mais tópicos:
           - “Premissa”;
           - ”Esquema”;
           - ”Sinopse.”
           Levanta para fazer um café. A noite vai ser longa.











Capítulo 2

             “E agora?”
               Já com o estômago azedo de tanto café, esboço pronto e com mil idéias fervilhando em sua cabeça. Olha para a agenda cheia de anotações, setas, quadrados com temas, idéias e tenta imaginar se no fim de tudo, o caminho escolhido seria o ideal.Seria melhor escrever uma realidade paralela onde Hitler estava vivo na Argentina e planejava junto com neonazistas, uma retomada de poder na América Latina?Ou se firmar na realidade e fazer uma reportagem?Mas os pesquisadores citados no documentário já haviam feito isso.
           “Dá próxima vez vou desenhar um mapa, criar um mundo fantástico com elfos e dragões. Ou criar um elemento natural que dá poder para a raça ou povo que o detém em suas terras. Assim acho que fica mais fácil me desvencilhar de todos os problemas com a imensurável pesquisa que vou ter que fazer para não vacilar no livro.”
             “E agora? Bom, agora vou escrever tudo que vier a mente e no fim separo o que presta do que não presta. Dan Brown escreveu o mesmo livro sempre: Pano de fundo real; tensão sexual reprimida entre o homem e a mulher envolvidos na estória; evento que poderia abalar todo o tecido da realidade estabelecido pela mídia, religião e política. Personagem comum que poderia ser qualquer um de nós. Nesses aspectos penso que a ‘tensão sexual’ é o ponto mais importante. Mesmo a estória sendo um lixo, em nosso inconsciente torcemos tanto para que o cara dê um beijo na moça que devoramos o livro sem notar o óbvio da coisa toda. Bom mesmo é o James Bond, que transa com todas, bebe Martini,dirige só carrão e ainda é inglês.Mais chique impossível. ”
              Ufa!Ele descobriu que personagem carismático era importante. Descobriu a roda. Narrador na torcida?Novidade.
             “Caramba! Dan Brown como referência? Melhor ler mais Chuck Palahniuk, Tolkien, T.H.White. Senão, para me inspirar vou colocar um cd do Wando e depois do Richard Clayderman. O problema dos escritores ingleses como referência (Tolkien e White), seria no fim de todo o processo, eu tentar ser ou me tornar um genérico de J. K. Rowling. Igual ao Rick Riordan. Que maldade. Chega de referências.”

            “O tijolo do título pode ser meu ponto de partida. Porque no sentido de peça utilizada em construção ou parte da construção de um muro ou parede, posso considerar que a estratégia dos nazis era pavimentar ou construir a invasão da América Latina pela via menos sangrenta. A via Intelectual e ideológica. Seria muito custoso e até impossível copiar a Invasão da Normandia. Não sou militar nem servi nenhuma força militar. Mas parece claro que subir com tropas e tanques a Serra do Mar no estado de São Paulo é complicado. Essa barreira natural seria uma boa defesa. Invadir pelo nordeste? Só se deslocasse o Rommel para o Maranhão e junto com ele o Afrika Corps. Imagina? Fácil. Alguns navios com tanques e pronto. E tem mais: Atravessar o Atlântico? E o apoio aéreo? Agora complicou de vez. Não pularam nem o Canal da Mancha. Acho que o lógico seria fazer o que fizeram na Alemanha antes da Guerra. Propaganda e política.”
          “Nesse caso, tenho que aumentar minha pesquisa. Receita de bolo pronta. Agora é juntar os ingredientes.”
         Foi dormir.






Capítulo 3


                Depois de uma pesquisa rápida na internet. Resolve comprar alguns livros. Ficção, não-ficção, tudo que encontrou sobre o assunto. Notou que o universo da matéria era vasto e um pouco sensacionalista. E achou estranho não haver muito material a respeito tratando do assunto do ponto de vista latino-americano. Tanto o que diz respeito ao posicionamento dos governos quanto à opinião da população. Nesse aspecto pensa em pesquisar o contexto histórico e social da época. Como era o Brasil das décadas de vinte, trinta e quarenta? Quem eram os formadores de opinião? Qual a mídia mais forte no âmbito popular? Rádio ou jornais e revistas? Posição do governo? Como o Brasil era visto estrategicamente pelas nações em guerra?
               “Vou aproveitar o fim de semana para pesquisar.”
                Voltava para casa, feliz e cheio de livros.
                “Era importante ter um embasamento histórico.”
                ”A ambientação/embasamento histórico parece nos oferecer certo conforto na leitura.”
                “Acho que por isso tem um mapa no começo dos livros do Tolkien e do Martin. A necessidade de localizar tudo. Será que a estória simplesmente não pode acontecer em qualquer lugar? Cabe agora a definição de Cenário em Narratologia: Realista, Geoficcção e Fantástico. Meu Cenário é realista. Facilita algumas coisas, mas me prende a outras. Terminando esse livro, talvez crie um mundo só meu. Em um Cenário Fantástico. Fico livre de regras e crio minhas próprias.”
              “Revisitando o universo de meus sonhos. Título do próximo.”
               Em casa, abre a agenda e tenta criar um esquema para que os rabiscos da noite anterior tenham sentido e ajudem mais que atrapalhem.
              “Isaac Asimov criou as três leis da Robótica. Chuck Palahniuk criou as regras do Clube da Luta. Preciso das minhas.”
             E enumera tudo, com um nome curioso:

            “Lista para evitar que minha neurose atrapalhe o trabalho.”

              “- 1° Escrever todo dia;
               - 2° Escrever todo dia mesmo;
               - 3° Nunca escrever bêbado;
               - 4° Qualquer lixo pode servir;
               - 5° Você não é Machado de Assis, nem Drummond, nem José Simão;
               - 6° Desencana e escreve.”
                
              “Será que sou bipolar? Ou tetrapolar?”
              “Agora tenho que pensar em como definir o que vou fazer.”
              “Pontuando as prioridades. Devo me preocupar em localizar o leitor no contexto social, geográfico, histórico e político. Fazer a leitura fluir sem parecer um trabalho de quinta série ou uma extensa tese de doutorado. É um romance histórico. Tem que ser divertido. Tem que ter alívio cômico. Eu sou o alívio cômico? Ou minhas neuras?”
              E faz outra lista.
              “Perguntas a serem respondidas no trabalho ou Lista das regras para o livro não virar sessão de terapia.”
             “- Definir onde, quando, como e por que;
              - Personagens? “
              “Meu Deus, de novo esse dilema do personagem...”
              “- O tijolo.”
              “Que mais?”
             “- Promover o livro na net?
              - Testar os capítulos?
              - Fazer um blog?
              - Bruna Surfistinha, não!”












































 Capítulo 4

                  “Já sei! Uma frase para começar já tenho. Vai ser por esse caminho:
                    Um cara compra ou herda uma fazenda ou um sitio em Itatiaia. E encontra uma cristaleira ou armário ou caixa  com louças contendo a suástica estampada.”
                  Em suas anotações da agenda, copiou informações que encontrou na internet, além de anotações de sua própria consideração que iriam servir de auxílio no desenvolvimento do livro. Após terminar de ler, resolveu copiar no notebook separando e copiando tudo em fato histórico, ficção, influência, consideração com comentários para algumas partes da pesquisa.

“Consideração:”
“-Devido ao vistoso crescimento econômico e militar da Alemanha de Hitler, diplomatas latino-americanos se encantaram com o regime nacional-socialista. O FBI investigava isso e penso que as ditaduras latino-americanas são reflexos ou ecos dessa investigação, mais tarde sendo patrocinadas/promovidas pelo governo americano - leia C.I.A. - como forma de controlar as nações dessa região. Ou a tomada do poder pelo Exército foi causada por um vírus? A economia em colapso dos anos oitenta também seria um tipo de manipulação para tirar o foco das pessoas do que realmente acontecia? Evitar que o senso crítico se desenvolvesse e as pessoas envolvidas com o Poder perdessem força? Seria uma terceira força entre as ideologias políticas da época, o nacional-socialismo proposto por Hitler? E isso seria um problema para a América capitalista?”

“Fato Histórico:”
“-Os nazistas Franz Stangl e Gustav Wagner moravam nos arredores de São Paulo. Atibaia.”
“Será que havia um plano de fuga no caso de derrota para os aliados e o destino seria o Brasil ou a América Latina de forma geral?”

“Fato Histórico:”
“-Simon Wiesenthal em abril de 1978 encontrou nova pista na procura de Gustav Wagner, um artigo de jornal brasileiro descrevendo uma estranha comemoração em um Hotel no Brasil uma festa de aniversário para Hitler (o Jornal do Brasil recebe anonimamente um convite cifrado e manda jornalista investigar). Hotel Tyll, restaurante, cristaleira, todos com suástica. Festa em Itatiaia.”

“Influência:”
“-Universos pessimistas de Alan Moore,V de Vingança , Watchmen , A Liga extraordinária . Citar como contra-peso aos Universos cristãos de  Tolkien e C.S. Lewis.”




“Ficção:”
“-Indiana Jones contra os nazis nos filmes Caçadores da Arca Perdida e Indiana Jones e a Última Cruzada.Além de toda citação à Segunda Guerra nos anos 80 e 90,em filmes jogos de video-game,computador,etc.”

“Ficção:”
“-Spielberg em Resgate do Soldado Ryan,Lista de Schindler.”


“Influência:”
-George Lucas usando a estética nazi em star wars: usando o nazismo como estética do mal na série toda, capacete, exército, e até a manipulação política do Darth Sidius transformando a República em Império (reich). Ao estar presente na memória de todos nós, a Segunda Guerra Mundial, em função de filmes, escola, etc. Parece-me ficar mais fácil estabelecer uma ponte entre a ficção e a realidade dando suporte a suspenção da descrença necessária para acreditar em um universo tecnológico com ética medieval: Jedis (samurais) em um mundo com naves capazes de realizar viagens a velocidade da luz.”

“Consideração:”
“-Reconhecemos inconscientemente a universalidade do tema(Segunda Guerra Mundial) e acabamos por mergulhar na estória ,no caso a mitologia Star Wars.”

“Consideração:”
“- Um evento histórico nesse caso pode ser visto da mesma maneira que um arquétipo social?”
“Influência:”
“-O roteiro da saga Guerra nas Estrelas, Star Wars no original, é baseado no mito do herói.
Esse mito é um conjunto de arquétipos recorrentes em quase todas as lendas e mitos, presente no inconsciente coletivo de todas as sociedades humanas. São os heróis, seus mestres, sua iniciação, suas aventuras. A história dos Jedis comove porque fala de coisas comuns a todas as pessoas  e, principalmente, da dualidade entre o bem e o mal. Do que contém em si duas naturezas. No caso a eterna sedução do Lado Negro da Força sentida pelos Jedi.”

“Influência:”
“-Joseph Campbell.”

“Influência:”
“-O mito heróico teve origem na mitologia grega, mas George Lucas foi o primeiro a misturar todos esses elementos de uma maneira já condensada e presente no cotidiano de quem assiste a série de filmes, fazendo com que se identifiquem com a história. Os Jedis são inspirados nos samurais, os heróis do Japão feudal, tanto nas vestimentas, no seu código de conduta e espiritualidade quanto nas técnicas de luta com a espada. O diretor japonês Akira Kurosawa (Os Sete Samurais) já usava esses heróis vinte  anos antes da série sair do papel. Para o papel de Obi-Wan Kenobi, na primeira trilogia, chegou a ser cotado o ator japonês Toshiro Mifune, que já tinha feito papel de samurai nos filmes de Kurosawa. A palavra jedi vem do termo japonês jidai geki, que designa dramas de época - quase sempre histórias de samurais - na TV nipônica.”

“Será qua alguém tem o Poder do Mito de Joseph Campbell para me emprestar?”







Capítulo 5

                               “Um cara compra ou herda uma fazenda ou um sitio em Itatiaia. E encontra uma cristaleira ou armário ou caixa com louças contendo a suástica estampada.”
                            “Outra regra para a lista: Diminuir as opções.”
                               Agora devidamente munido de café, livros, revistas, CDs, comida. Começa finalmente a escrever.

                               Afonso herdou o prédio de um Hotel. Seu tio Célio, o havia comprado, após a falência do empreendimento, alguns anos antes de morrer. E sempre comentava, dizendo sonhar em reativar o Hotel pela grande possibilidade financeira e por ser um ramo de negócios bastante próspero na região. Coitado. Morreu sem ver o sonho realizado. Agora estava tudo nas mãos de Afonso.
                        
                          “Bom começo? Ai, as neuras...”
                           O escritor pretenso então começa finalmente a escrever sem se preocupar com mais nada (ou pelo menos acredita nisso), percebe que a estória parecia se formar sozinha e tenta transformar todas as informações que acumulou nos últimos dias e noites em algo para desenvolver no decorrer do processo de escrita do livro. Já havia passado uma semana desde que começou a pesquisa e pensava já ter encontrado um bom argumento para começar a escrever. Quem sabe o ritmo da escrita forçada noite adentro, o faria notar um jeito de desenvolver a estória sem que fosse preciso criar milhares de meios para a produção do texto fluir.
                          “Tem que ser uma escrita visceral e desestruturada a princípio. Após um número suficiente de páginas teria um formato sendo criado sozinho. Era melhor a estória se deixar guiar e não definir tudo logo no começo.”
                        ”Deixe a audiência guiar o roteiro.”
                        Era ele mesmo a Audiência.
                          “E esse Afonso? Precisa de um flashback contando sua infância privilegiada com os pais em uma cidade do interior de São Paulo. Indo a Itatiaia de quinze em quinze dias visitar o tio Célio? Dizer que é filho único e estava terminando o mestrado em História?”
                        “Caramba, não era sobre tijolo? Agora virou para Xícaras Nazistas? Esquece o título, Leandro.”
                     Rindo de si mesmo tenta deixar a história fluir. O título era provisório mesmo.
                     “Melhor pensar em apenas escrever.”
                      Tentando criar um argumento para justificar o livro. Leandro pensa em um aspecto da mente humana importante na evolução de todo o processo científico, cultural, artístico, etc. Responsável, em parte, da criação da sociedade atual e de nós mesmos: A Curiosidade.
                        “Será que a necessidade de encontrar algo além de nós mesmos, vem de nossa cultura ou de nossa natureza?”
                      “Acho que finalmente tenho material suficiente para continuar. Vou me fixar na relação entre Brasil e a Alemanha na questão política e econômica fazendo um paralelo entre a dualidade do sistema nacional-socialista... E afundar a história! Acorda Leandro! O livro é uma ficção. Roberto Lopes já escreveu sobre: ’Diplomatas e Espiões ‘ e ‘Missão no Reich’.”
                  Aff... Mais referências.
                   Espero como narrador, enfim me retirar do ofício e deixar que nosso personagem neurótico crie sua estória ficcional. Termino aqui minha função e entrego o cargo à disposição do escritor do metalingüístico livro que você leitor tem em mãos. Quero apenas deixar a narração se desenvolver dentro da mente de nosso amigo Leandro sem necessidade de deslocar a atenção do leitor para o cenário ou a ação envolvida na trama. Agora a mesma, será descrita e narrada apenas pelo escritor, no caso Leandro. Sendo necessário reestruturar a contagem de capítulos e começar o livro dentro do livro. Até mais! Caso o autor da metalinguagem ache preciso.

“Titulo Provisório número 3: Conspiração Nazista”




























Capítulo 01

Presente de Grego (ou nazista?)


                      Afonso herdou o prédio de um Hotel. Seu tio Célio, o havia comprado, após a falência do empreendimento, alguns anos antes de morrer. E sempre comentava, dizendo sonhar em reativar o Hotel pela grande possibilidade financeira e por ser um ramo de negócios bastante próspero na região. Coitado. Morreu sem ver o sonho realizado. Agora estava tudo nas mãos de Afonso.


                              -- Tomara que o terreno pelo menos seja valioso... Vai que o prédio esteja caindo. Pensou Afonso, dirigindo em direção a cidade onde o imóvel se localizava.
                              Ainda não havia se recuperado da notícia da morte do tio e mal saindo do cemitério, após o funeral, recebe um telefonema pedindo para acompanhar a leitura do testamento.
                            -- Advogados são assim mesmo insensíveis ou aprendem isso na faculdade? Respondeu à secretária que lhe deu o recado do compromisso imposto pelo trágico acontecimento. Ninguém entendia o motivo do suicídio do tio e Afonso não acreditava nessa hipótese.
                           -- Tio Célio era novo e com a saúde em dia. Estranho ter um testamento. Ainda mais deixando para mim um Prédio abandonado no interior do estado. O que ele pensava que um professor vai fazer em um hotel falido? Abrir um museu? Pensava, atento as placas da rodovia.


                       Entre as lembranças dos dias passados, a mistura de emoções desde os momentos da dor da perda do tio, a surpresa do testamento inimaginado e a paisagem da estrada, uma angustiante sensação de que havia algo errado com a morte do tio atormentava Afonso. Qual seria a próxima surpresa?
                      Chegando à cidade que era o cenário de sua infância, pára o carro no endereço dado pelo advogado e fica feliz com a simpatia do lugar.
                     – Pena não ter realizado seu sonho, Tio. Falou baixinho olhando para frente do prédio que ainda mantinha certa imponência.
                     Era um belo lugar e deveria ter sido próspero em seu auge. Deveria ser dos anos cinqüenta. Com aquela arquitetura retro-futurista bem marcante da época. Além de aparentar alguma vitalidade, quem sabe por causa da reforma que parecia recente, o prédio estava muito bem protegido com cadeados novos nos portões e grades nas janelas onde haviam vidros maiores e passíveis de arrombamento.
                    – Mais um motivo para eu duvidar do suicídio. Será que ele descobriu que estava com alguma doença terminal?                                       
                    Essa dúvida só crescia em seus pensamentos sobre a morte do tio.
                      Ao entrar no saguão do Hotel, se espanta com o brilho do assoalho. Era como se acabassem de tê-lo lustrado. Estando livre de móveis aparentava ser enorme. À esquerda da porta principal havia uma escada de madeira muito bem feita e cheia de detalhes nas pequenas colunas do corrimão. Do lado oposto à escada, um balcão muito discreto e um painel onde as chaves deveriam ficar logo atrás. Seguindo o balcão um longo corredor terminava com uma porta de vidro que dava para a piscina.
                     -- Nossa! E eu preocupado. Achando que estava tudo caindo. Falou sozinho, tão grande a admiração que sentia enquanto caminhava pelo saguão. Reparando no revestimento de madeira que conferia ao lugar um clima europeu, apesar da fachada lembrar outros prédios da rua e não ter muito do estilo do interior. Balançou negativamente a cabeça, se culpando por julgar que o prédio estaria abandonado.
                      Constrangido com a desconfiança em relação ao capricho do Tio, Afonso segue curioso descobrindo a beleza do lugar e percebendo a mão do tio na qualidade do feito da reforma que a cada passo no interior do prédio se fazia mais evidente.
            Seguindo pelo corredor encontra outra sala que deveria ser onde as refeições eram servidas e no fundo uma porta vai-e-vem que deveria dar para a cozinha. No fundo da sala, muito bem organizadas, estavam junto à parede, mesas com tampo de vidro e cadeiras de ferro fundido com encostos trabalhados, muito bem feitos ostentando no meio as letras HT, que deveriam ser referentes ao nome do antigo Hotel. Uma cristaleira muito grande estava junto ao material todo. Vazia. Estava escurecendo. E apesar de ser dono de um, Afonso seguiu para outro hotel.
                      Após um banho demorado. Começa a repassar todos os acontecimentos. A morte trágica, o testamento, o Hotel recém reformado. Os anos que não o via pessoalmente nem sequer falava com o Tio pelo telefone ou qualquer outro meio. Bateu certo remorso. Mas nunca brigaram ou se desentenderam. O afastamento se deu por circunstâncias comuns. Faculdade, mestrado em andamento, trabalho, correr atrás de dinheiro. Tentar se estabelecer. Coisas que a vida nos obriga a fazer e não pensamos se no fim vale à pena. Agora sem uma pessoa que amava não fazia conta de quanto à vida iria ficar mais cinza aos poucos. Era hora de rever conceitos e talvez mudar a direção. Pode ser que a morte do Tio, independente do motivo era para ele uma forma de aprender a viver a vida de maneira mais desacelerada.
                     -- Bom... Agora é dormir, acordar cedo e tentar ver se consigo falar logo pela manhã com as pessoas que trabalhavam e conheciam o Tio Célio. Espero que consiga descobrir as intenções dele em relação ao Hotel.


No dia seguinte pela manhã, passa na prefeitura para ver a situação fiscal do imóvel e descobre que o tio era muito querido e que sua morte causou estranheza a todos. Também duvidavam do motivo alegado pela perícia.
Liga para o responsável pela reforma, Seu José Antônio, no número indicado pelo advogado. E, marca de se encontrarem depois do almoço, entre 13h30min e 14h00min no Hotel.
Ao se aproximar já vê Seu José no portão.
-- Hora não muito boa para te conhecer, meu filho. Diz o homem que aparentava ter em torno de sessenta anos e com uma jovialidade que não era típica da idade.
--Seu Tio era um homem como poucos, meu amigo há muitos anos. Meus pêsames.
--Também pensava isso dele. Realmente, não gostaria de conhecer o senhor nessa situação. Estende a mão e percebe a firmeza do cumprimento do mestre de obras. Um aperto de mão que apenas pessoas seguras são capazes de fazer e demonstrar a tenacidade de sua personalidade.
  Conta a Seu José que entrou, olhou o saguão e o restaurante... E não tinha visto mais nada. Como era perto das 17 horas estava cansado por causa da viagem, com fome e tinha preferido ir descansar. Tinha passado apenas por curiosidade e estava maravilhado com o que havia encontrado. Seu José diz que ainda tinha algumas reformas para fazer, mas o Tio mandou parar tudo depois que encontrou umas caixas, que ninguém sabia o conteúdo, em uma parte do prédio que estava trancada. Aquilo tinha deixado o Célio perturbado e com uma ansiedade nunca notada em alguém como ele. Após ver as caixas, Célio pára as obras e ficava horas e horas sozinho trancado no prédio. Manda os pedreiros trocarem as fechaduras que davam para a rua e colocarem grades nas janelas. Coisa que não era prevista no projeto. As janelas eram altas devido ao tipo de construção com alicerce bem acima do nível do solo para evitar umidade e infiltrações. Era mais fácil colocar alarme e câmeras, havia sugerido. Mas ele achou pouco seguro. Acostumado com essas paralisações em obras daquele tamanho, não havia dado muita atenção a mudança de comportamento do tio Célio, justificando achar que seria de ordem econômica. Como isso na maioria das vezes era o motivo. Restava lamentar a perda do amigo.
Afonso pergunta sobre as caixas e o conteúdo. Mas Seu José diz que como a morte pegou a todos de surpresa, nem tinham entrado mais no prédio. As chaves ficavam com o Tio e como ele ficou neurótico com a segurança, com certeza deveriam estar na casa dele.
A casa era dos avôs de Afonso. Ele havia recebido uma cópia também de seu pai. O Tio morava sozinho. Era o único irmão de seu pai. Como o pai de Afonso morava em São Paulo e o tio era solteiro, eles combinaram de Célio morar lá, até resolverem o fariam com o imóvel nessas questões de herança e tal. Dessa forma com a morte do tio e Afonso sendo filho único, a casa de seus avôs, também ficaria sob sua responsabilidade até o pai decidir se venderia ou não. Conforme o testamento, Afonso era dono do Hotel e tudo que se encontrava dentro do prédio e na propriedade.
-- Então, Seu José... Vamos ver se encontramos essas caixas e descobrimos o que deixou meu Tio tão nervoso e preocupado. Mas e sobre o Hotel?O senhor pode me informar qual a história dele?Pergunta Afonso abrindo a porta do Saguão.
-- Posso sim. Resumindo, foi inaugurado entre mil novecentos e cinqüenta e cinco e mil novecentos e cinqüenta e seis. Ficou bem, funcionado até final dos anos setenta quando aconteceu um caso policial que saiu até nos jornais de circulação nacional e depois disso foi lacrado pela policia. Agora, há uns sete anos atrás foi reaberto, mas não vingou. Foi quando o Célio comprou. Ano passado resolveu as pendências que os últimos donos deixaram e começamos a reforma. Ele estava empolgado. Até que deu no que deu... Seu José aperta os lábios dá uma pequena suspirada e levanta os ombros com um leve pesar no rosto.
-- Então, meu Tio era ou seria a terceira administração do Hotel. Afonso começa a ficar interessado, historiador como era.
--Sim. Na década de cinqüenta eram de uns alemães que vieram para cá no período da Segunda Guerra. Seu José forçava a memória para tentar ser correto ao dar as informações.
--Depois da Guerra ou durante?Afonso diz. E de pronto Seu José. Dispara:
--Ai, nesse caso, já não sei, meu filho... O que te falei foi seu tio que me contou. Quem sabe na prefeitura ou na biblioteca você pode saber dessas coisas.
-- Imaginei tudo diferente... Achava que seria um prédio construído próximo a calçada. Sem tantos retoques arquitetônicos. Mais prático que bonito. Fiquei feliz com o que vi. Gostei do muro baixo com a grade completando a altura e do recuo em relação à calçada. Quando terminar a reforma o jardim será muito bonito. Ele queira apenas reabrir o Hotel, Seu José?Era viável?
--Era sim. Os últimos donos erraram em muitas coisas e fecharam por falta de uma administração mais eficiente. Dava para ver que eram inexperientes no ramo da hotelaria. Não exploraram as possibilidades turísticas da região. O restaurante era bom, mas não conseguiram custear o necessário. Deveriam ter investido mais em propaganda. Mas paciência, né?
Seu José era um homem de visão empresarial, inteligente e articulado. Ninguém toca obras só por intuição. E pelo que Afonso notou no Hotel seu trabalho era muito bom. Se destacaria em qualquer lugar.
-- O senhor poderia ser meu guia?Estou meio perdido ainda. O advogado me deu só a chave e não tenho planta do prédio, nem nenhum relatório do que possui o Hotel em termos de material e essas coisas. Pergunta meio sem jeito, com medo de incomodar.
--Claro, quem sabe encontramos as caixas!O sorriso de Seu José parecia de um menino em busca de um tesouro.
E começam a olhar tudo.
Passando pelos quartos vazios. Vão até o fim do corredor do primeiro andar.
-- Toda Mobília dos quartos foi levada para restauração. Adiantou-se seu José. —No fim do corredor há um quarto que seria usado pelo pessoal da limpeza, ao lado de outra escada que segue para o segundo andar, também usada pelos funcionários da cozinha em caso de algum pedido. Como você viu, a escada dos hóspedes é a que usamos. Há no segundo andar outro quarto assim. Você vai perceber que ainda não havíamos mexido em nada lá. Assim que terminamos as obras no térreo todo e no primeiro, Célio achou as caixas e começou a ficar estranho. Bom, falo “caixas” por que ao passar  aqui para ver como estavam as coisas na reforma, o encontrei mandando os pedreiros embora e notei  essas caixas de papelão na caminhonete. Não sei o conteúdo delas apenas deu para ver uns aparelhos antigos... Bem antigos mesmo e muito papel em várias pastas de arquivo bem velhas. Por isso deduzi que ele as encontrou aqui. Mas não dei atenção. Depois disso ele ficou arredio e alguns dias depois, suspendeu a reforma.
--Mas o senhor não perguntou por quê?
--Não, para mim era um adiamento. Coisa financeira... Sei lá. Depois da morte dele que liguei as coisas. E percebi que a mudança começou no dia que ele saiu daqui com essas coisas. Disse seu José. Olhando junto com Afonso o corredor vazio e se dirigindo para o lugar onde estava instalada mais uma escada que dava no armazém do sótão.
Mesmo com os desníveis laterais, no armazém era possível andar ereto desde que pelo meio. O madeiramento era disposto de maneira a permitir que se aproveitassem bem os espaços. Mas parecia que o cômodo era menor. Andando até a parede oposta a escada, uma porta chamou a atenção dos dois.
—Conhecia esse cômodo, seu José?
—Não. Ao iniciar a obra dei uma olhada da escada para conhecer, mas não tinha visto essa porta de lá. Responde prontamente apontando para trás.
--Está trancada. Diz Afonso tentando girar a maçaneta. E minhas chaves são diferentes. O que meu tio encontrou devia estar aqui. Mais tarde vou até a casa dele e procuro por lá. Sabe me falar se a estrada ainda é como há quinze anos?Quando era criança se chovia a gente perdia o direito de ir e vir. Pergunta sorrindo.
--Não... Agora mudou. Cidade turística tem que ter acesso fácil às coisas. Ir até o sitio fica fácil mesmo com chuva. Conheço lá. Seu José, responde cheio de orgulho de sua cidade.
--Nem quis ir lá ainda. Muitas lembranças boas e essa recente bem triste. Mas acho que vou dormir lá essa noite. Afonso olha o armazém vazio onde antes deveria ser um depósito de coisas inúteis do Hotel e se volta caminhando em direção a escada, convidando seu José a voltar ao saguão.
Já no térreo, se despede de seu José dizendo que poderia precisar dele em relação à reforma, e que o colocaria a par de toda novidade em relação ao conteúdo das caixas caso as encontrasse.
 Como já havia colocado sua bagagem no carro e feito o check-out no hotel onde passou a noite. Dirige até a casa das memórias de sua infância. Como eram boas as lembranças. O caminho tinha mudado pouco, mas se notava um cuidado maior. Valetas para escoamento das águas da chuva e essas coisas de infra-estrutura. Ao chegar ao sitio abre o enorme portão e sobe a estrada até a casa que era construída em uma área plana no alto da propriedade. Procura o caseiro. ”Deve estar cuidando das coisas daqui, sabia que viria hoje, mas não avisei o horário.”
--João! Grita, andando até a varanda da casa. E em sua direção caminha um homem de chapéu tipicamente trajado de trabalhador rural: botinas, calça jeans, canivete no cinto e camisa xadrez.
–O menino!Tá grande, hein? Com sorriso aberto de orelha a orelha, abraça o menino que viu crescer a cada seis meses nas férias escolares.
João era filho do seu Manuel, antigo responsável na época do avô de Afonso. Era pouco mais velho que Célio. E muito próximo dele. Não tinha filhos. Vivia só com sua esposa que era ótima cozinheira. Foram eles que encontraram o carro e o corpo de Célio na estrada em direção a cidade. 
--Cada vez mais parecido com seu pai. Que bom que você tá aqui. Sem o Celinho eu tava querendo ir embora. A Marlene tá inconformada. Desabafa em um misto de alegria por ver o Menino depois de tanto tempo e por saber que o motivo de ele estar ali era a morte de um amigo.
--Imagino. Afonso aperta os lábios com os olhos mareados.
--Mas com você aqui, muda todo. Vou cuidar de você já é tradição na minha família cuidar dos Mascarenhas.
--Que bom. Vou ficar um tempão. Tenho muitas coisas para resolver. E a Marlene?Depois de quinze anos ainda faz aquele bolo de fubá maravilhoso?E entram na casa.
-- Olham que tá aqui, Marlene! Realmente a chegada de Afonso deixara João radiante. Ao entrar na casa vê a antiga amiga de seu tio.
--Ah. Meu menino. Me conta o que fez nesses anos longe. Já casou?Tentava demonstrar uma alegria que não era disfarçada pela tristeza em seu coração.
--Ainda não só com o trabalho. Disse Afonso. Quem sabe um dia.
Sorrindo maliciosamente Marlene aponta uma cadeira de balanço na sala de entrada da casa e se senta em um sofá próximo. Era próximo das cinco horas da tarde imaginando que Afonso estaria com fome pergunta se aceitava um café.
--Só se tiver aquele seu bolo. Responde Afonso.
Depois de alimentados e com a conversa em dia. Marlene e João enfrentam o assunto que mais queriam fugir. E contam tudo. O carro parado na estrada, as cartelas de remédios vazias, a falta de motivo aparente, a vida que Célio levava e a alegria de trabalhar na reforma. Também não acreditavam na hipótese de suicídio.
--Ele não tinha motivo, Afonso. Tava tudo bem. Tinha dinheiro, saúde e o sitio se mantinha muito bem. Seu avô deixou tudo tinindo. A gente só mantinha tudo funcionando como tinha que ser e pronto. Nunca teve um problema de saúde, nem nada. Era um cavalo como diria sua vó. Forte feito um cavalo. A polícia falou que não tinha alternativa, pois nada tinha sido roubado e não tinha também marcas de nada. Briga, outro carro, tiro, nada. Só acharam as cartelas de calmante tarja-preta e depois de levar o corpo pro IML disseram que a morte foi causada pela alta ingestão de remédios e falta de ter sido atendido a tempo. Quando achamos ele já tava morto. Só resta lamentar disse o policial.
--Morreu. Achou uma explicação plausível. Pronto para que investigar? Disse Afonso. Concordo com vocês. Ele não se matou. O empreiteiro falou que ele encontrou umas coisas no hotel e ficou diferente depois disso. Vocês perceberam alguma coisa?Falaram disso para a polícia?Perguntou.
--Eu não pensei em nada ainda. Não caiu a ficha. Nem falei nada para a polícia. Respondeu João. As coisas que ele encontrou estão trancadas no quarto dele. Não entrei lá ainda nem a Marlene ele morreu só há quinze dias. Nessa correria de mandar o corpo pra cidade, IML, cemitério. Não parei ainda pra tentar voltar à realidade. Parece tudo um pesadelo... Foi muito recente.
--Vou te ajudar a arrumar tudo e vamos descobrir o que levou o tio a se matar ou a matarem ele. Afonso foi tão determinado na resposta que João se sentiu mais renovado ainda com a presença dele. —Agora me mostra o que ele achou. Ordenou Afonso.
--Vamos lá ao quarto dele então. João levantou-se da cadeira e foram para o quarto de Célio.
No caminho ao quarto de Célio, João comenta que o comportamento dele era muito diferente do que sempre demonstrou. Estava angustiado, preocupado com a segurança de tudo. Mudava o itinerário de seus caminhos habituais. Muita neurose para quem sempre foi muito bem relacionado com todos e nunca teve inimigos. A cidade também não era assim violenta a ponto de ter essa preocupação exagerada como ele exibia ultimamente.
-- Há quanto tempo ele encontrou essas coisas? Ele comentou alguma coisa que seja importante?Indagou Afonso.
-- No máximo há dois e meio ou três meses. Quando ele começou a examinar as plantas antigas e perceber que havia uma diferença no tamanho do sótão do Hotel. Uns três metros a menos em relação ao que dizia a planta. Célio achava que o revestimento de madeira da parede era muito mais novo que o resto da construção e que teria sido colocado bem depois. Então, junto com os pedreiros, retirou esse revestimento e encontrou atrás dele outra parede de alvenaria e uma porta. No mesmo dia, ele chegou aqui com a caminhonete cheia dessas caixas e parou a obra. Respondeu João ao passo que Afonso já emenda outra pergunta.
--Mas não te disse nada? E esses pedreiros?Ajudaram ele? Viram alguma coisa?João responde junto à porta do quarto que não sabia sobre os pedreiros, mas que o empreiteiro poderia ajudar e que Célio apenas juntou tudo trouxe, para casa e parou a reforma até descobrir o que eram aquilo tudo. A única ordem dele foi aumentar a segurança do prédio.
--Ali estão as caixas e os equipamentos. João aponta um canto do quarto, onde estavam empilhadas seis caixas de papelão pardo cheias de pastas e papéis, e, ao lado delas vários equipamentos eletrônicos muito antigos.
-- Você já mexeu nelas? Diz Afonso entrando no quarto, se aproximando e abaixando em frente às caixas.
--Não. Nunca foi meu costume mexer nas coisas dos outros nem quando pediam. Depois que ele morreu... Na verdade desde que ele entrou aqui com isso é a primeira vez que venho aqui. Nem sei o que tem ai dentro. João responde e vai se aproximando curiosamente, mas tentando esconder esse sentimento.
Afonso abre as abas da primeira caixa e de olhos arregalados diz para o amigo ao lado dele de joelhos.
-- Olha isso João. Tem suásticas em quase todos os papéis.

Pergaminho do Mestre

 Olá, Aventureiro! Se está aqui, decifrou o pergaminho.  Agora deve ir ao Mestre do Jogo e perguntar onde você e seu grupo devem encontrar a...